29 de dez. de 2008

A Porca Que Cantava Para a Lua: resenha

Natal é dia de leitura para mim e esse ano li dois livros. O primeiro foi o 'retrato' literário de Picasso escrito pela autora modernista Gertrude Stein e publicado em 1938. Stein ficou famosa por sua escrita automática, sem pontuação e com ênfase no 'ser', no presente contínuo, na representação das coisas como elas são e não como elas são lembradas. Parece um pouco a filosofia Zen e vai contra o excesso descritivo e a obsessão com trama que reina na literatura contemporânea.

O outro livro foi um que eu planejava ler há muito tempo e se chama The Pig Who Sang To The Moon - The Emotional Life of Farm Animals (tradução minha: A Porca Que Cantava Para a Lua - A Vida Emocional dos Animais de Criação), do australiano JeffreyMasson. Masson faz um apelo pelos animais que são tipicamente vistos como 'comida' e demonstra como seus instintos, embora restritos pela tirania da agricultura animal, são muito proximos dos seus antepassados selvagens. Ele ilustra sua tese com exemplos da inteligêcia e sensibilidade dos bovinos, suinos, aves e outros. E aqui eu gostaria de citar uma frase do livro: "É errado criar animais para comê-los. Eu simplesmente não acredito que alguém vá dar a um animal uma vida boa se a razão dessa vida é terminar como uma refeição". Esse é um fato irrefutável que aqueles que dizem trabalhar pelo bem estar de animais em fazendas teimam em negar.

O ser humano tem uma capacidade enorme para a compaixão mas essa é acompanhada de uma capacidade tão grande para a crueldade e o abuso. Houve um caso de um experimento em uma escola na Califórnia nos anos 70 que buscou reproduzir as condições de um sistema ditatorial, com alguns alunos como fascistas e outros como vítimas do sistema. O nivel de autoritarismo dos alunos que deveriam participar de um jogo apenas assustou os professores e eles tiveram que interromper o projeto por medo de violência (esse experimento é tema de uma documentario chamado The Wave, atualmente em cartaz em cinemas pelo mundo).

O experimento demonstra, entre outras coisas, que o poder perante a vulnerabilidade - e os animais em fazendas são vulneráveis e sujeitos ao poder de seus 'donos' - inevitavelmente leva ao abuso e nesse caso agravado pelo aval que a sociedade concede a esse abuso. Por isso o veganismo é o imperativo moral de todos os que se interessam pelo bem estar e liberdade animal. Não adianta simplesmente 'melhorar' as condições de exploração. É necessário abolir a exploração. Esse é o verdadeiro bem estar animal e o único que interessa a cada criatura no momento 'vivendo' e sendo tratada como mera mercadoria.

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