Professor Dave Warwack faz uma análise da conexão do famoso episódio em que Cristo expulsa os vendilhões do templo, direitos animais e a morte de Cristo. Lobo Repórter agradece a Warwack pela gentileza de permitir a tradução e publicação desse texto.
Em tempos antigos o templo em Jerusalém não era como uma sinagoga moderna ou igreja; era um lugar onde os judeus compravam sacrifícios animais, e sendo assim pareciam mais um açougue ou matadouro do que um lugar de adoração. Os sacerdotes do templo podiam ficar com a maior parte da carne dos animais sacrificados e assim se beneficiavam economicamente dessa prática. Para os Ebionitas (membros de uma seita cristã primitiva entre os séculos I e IV D.C.), essa era uma sanção para matar animais, para a qual não havia lugar em sua religião. Jesus diz (Mateus 9:13 e 12:7), “Eu quero misericórdia, não sacrifício”, um dizer que as homilias e sermões também citam. O evangelho Ebionita cita que Jesus disse, “Eu vim abolir os sacrifícios, e se vocês não pararem de sacrificar, minha ira não vai cessar contra vocês” (Panarion 30.16.5).
Quando chegava o periodo dos rituais de passagem, Jesus foi para Jerusalém. Nos pátios do templo ele encontrou homens vendendo gado, ovelhas e pombos, e outros sentado a mesas, trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de corda e os expulsou da área do Templo, junto com suas ovelhas e gado; ele espalhou as moedas dos cambistas de dinheiro e virou suas mesas. Para aqueles que tinham pombos ele disse, “Saiam daqui! Como ousam transformar a casa do meu Pai em um mercado!” (João 2:13-16)
Os evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) assim como o Evangelho de São João, registram esse evento. É o único relato de Jesus em um ato agressivo. E foi o abate de animais, no nome de Deus, que o levou à essa ação não característica.
A maioria dos cristãos conhecem esse incidente, que é eufemisticamente chamado de “a purificação do templo”. Mas poucos se dão conta que ele é o elemento principal da Semana Santa. Ele ocasionou a prisão, o julgamento e a morte de Jesus porque ao tentar por um fim ao abate de animais, ele estava atacando a base econômica de Jerusalém. A Cidade Santa havia se tornado o centro de religião sacrificial 600 anos antes quanto o templo na cidade havia sido declarado o único lugar legítimo para sacrifícios.
Toda a cidade e seus habitantes dependiam do templo para sua sobrevivência. Trabalhadores, artesãos e agricultores eram compromissados com a manutenção do culto do sacrifício assim como eram os sacerdotes, Levitas, e outros envolvidos diretamente em suas atividades diárias. Em termos modernos, a Jerusalém antiga seria classificada como uma cidade dependente do turismo.
Haviam sempre muitos peregrinos na Cidade Santa e três vezes por ano, durante as principais observações religiosas do judaísmo, esses muitos se tornavam uma multidão. Principalmente durante o período dos rituais de passagem. Pelo fato de grandes multidões se reunirem em Jerusalém, era o tempo perfeito para Jesus fazer seu ataque no sistema sacrificial. Não apenas haveria muitas testemunhas para o que ele fez, milhares mais ficariam sabendo a medida que a estória do que aconteceu fosse passada de boca em boca pelos peregrinos e pela cidade.
O Evangelho segundo Marcos deixa claro que o ataque no sistema sacrificial foi um evento planejado, não um ato impulsivo. Depois de descrever a entrada triunfal na Cidade Santa quando as multidões diziam, “Hosanna”, o seu evangelho relata que “Jesus entrou em Jerusalém e foi para o templo. Ele olhou para tudo ao redor, mas como já era tarde, ele seguiu para Betânia com os doze.”
A ação que Jesus planejou estava para ser um espetáculo muito público. Mas quando ele tinha passado da multidão que o saudava e que enfileirava a estrada de entrada de Jerusalém, a maioria das pessoas haviam retornado para suas casas ou as pensões super lotadas que as abrigavam durante o periodo da passagem. Então ele foi para Betânia, onde passaria a noite na casa de Lázaro.
Mas antes que Jesus deixasse a cidade para a noite, quando “ele olhou para tudo ao redor”, ele teria visto os animais amontoados no cercado do templo. O próximo dia foi o décimo de Nisan, o dia tradicional em que o homem chefe da casa escolheria o animal que seria morto em honra de seu criador.
De acordo com os registros antigos, pesquisadores reconstruiram os eventos que aconteceram no dia do sacrifício. A matança começou às tres da tarde e chegado o pôr do sol cerca de 18 mil animais estariam mortos. Porque o templo não podia acomodar todos os “adoradores” ao mesmo tempo, as vítimas tinham que ser mortas em três turnos.
Cada turno incluía cerca de seis mil pessoas e já que o sacrifício era um animal com um ano de idade, os homens geralmente carregavam os cordeiros nos seus ombros. Chegados ao lugar de abate, eles se alinhavam em filas longas próximas a uma fila de sacerdotes. O shofar (tipo de berrante) soaria e os homens colocariam os animais no chão, cortando suas gargantas. Enquanto eles sangravam até morrer, os sacerdotes próximos a eles recolheriam o sangue em baldes grandes. Quando esses estivessem cheios eles seriam passados de mão em mão na fila até chegar ao altar. Eles jogariam o sangue contra a lateral do altar. Os baldes vazios seriam reciclados e enchidos novamente com o sangue de mais cordeiros.
Embora tudo fosse montado eficientemente, nem as criaturas humanas ou as não humanas que faziam parte do processo de abate se comportavam eficientemente. As vezes a faca não era afiada suficientemente, ou o cordeiro lutava, e embora o sangue tivesse começado a jorrar de sua garganta, o jovem animal em estado frenético teria que ser dominado antes que outro corte melhor fosse feito.
Obviamente o animal abatido perdia todo o controle de suas bexigas e rins. Os odores, o desespero das criaturas morrendo, e os inúmeros baldes de sangue jogados no altar em nome de deus, deixam claro que esse ritual de terror e violência era a adoração de um ídolo. Esse deus-da-morte foi criado por seres humanos em sua própria, decadente imagem.
Pelo fato do abate do inocente ser uma adoração idolatrosa, Isaías e outros profetas tinham pedido pelo fim da religião sacrificial. Mas eles não haviam agido contra o culto do templo. Agora, centenas de anos depois, Jesus Cristo, que começou seu ministério dizendo ser o cumprimento da profecia de Isaías (Lucas 4:16-20) agiu diretamente contra aquele sistema.
O resultado final foi que os romanos crucificaram Jesus. Pilates, o governador romano, não teria crucificado alguém simplesmente por causa de uma disputa teológica judia. Mas se alguém causasse revolta ou perturbação nos precintos do templo, isso pedia ação romana. É muito mais plausível que Jesus se opôs á prática do sacrifício animal em si, e que sua interrupção do comércio no templo durante a volátil semana da passagem foi a causa mais imediata e importante de sua morte. Foi esse ato, e sua interpretação como uma ameaça à ordem pública, que conduziu imediatamente à crufificação de Jesus.
Termos em itálicas foram adicionados pelo tradutor. Passagens do Novo Testamento foram traduzidas livremente pelo tradutor a partir do texto original. O artigo original pode ser encontrado aqui: http://veganschool101.blogspot.com/2008/12/murdered-jesus-vegan-animal-rights.html
Leia mais (em inglês): Jesus era vegano
2 comentários:
Awesome picture you added!
Rock on!
Peace and light,
Dave Warwak
It's good isn't it? Thanks again for such an enlightening piece. Lobo
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