7 de set. de 2024

O impacto do fogo nos animais do Pantanal

Após a onda de incêndios que atingiu o Pantanal no início de agosto, profissionais do Onçafari encontraram a onça Gaia, de 11 anos, carbonizada.

"Foi uma das cenas mais difíceis e cruéis que presenciei na vida, arrasando não só meu coração como de toda a equipe", descreveu o biólogo e guia Marcos Ávila.


A preocupação então recaiu sobre o paradeiro da filhote dela, Malala. No dia 21 de agosto, ela foi avistada. Havia sobrevivido e brincava solitária com um peixe em uma pequena poça de água enlameada. 

Os incêndios no Pantanal estão causando a morte de onças, como a Gaia, além de inúmeros outros animais.

Especialistas alertam que será muito difícil estimar a quantidade de macacos, cotias, tamanduás, cobras, jacarés, lagartos, entre tantos outros, que foram mortos queimados.

Os que sobrevivem, como Malala, devem enfrentar um cenário com menos recursos, tanto da flora quanto da fauna, além dos reflexos de uma seca severa. Tudo isso coloca em risco indivíduos e espécies, muitas delas ameaçadas de extinção

Em 2020, quando a pior tragédia causada pelo fogo atingiu o Pantanal, um estudo calculou que cerca de 17 milhões de vertebrados morreram. Neste ano, os incêndios, que começaram mais cedo, podem atingir uma área ainda maior devido à seca e às mudanças climáticas

Até agora, de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), a área queimada é de cerca de 2,4 milhões de hectares, aproximadamente 16% do bioma. 


"O bicho que você imaginar, nós achamos carbonizados"

No fim de julho, um caminhão atolou na areia em Nhecolândia (MS), a cerca de 90 km de Corumbá (MS), e pegou fogo. As chamas logo se alastraram devido à seca. Com os ventos, desceu ao sul, atingindo 80% da Caiman, uma propriedade de 53 mil hectares que abriga organizações de conservação da biodiversidade como o Onçafari e o Instituto Arara Azul. 

Quando o ex-piloto Mario Haberfeld fundou o Onçafari, há 13 anos, o fogo não era um problema. Em 2019, no entanto, o cenário mudou. Um grande incêndio atingiu a propriedade e gerou preocupação. Desde então, empresários e moradores da região passaram a se preparar para combater o evento extremo. 

Nada adiantou desta vez. "Nos outros incêndios, achávamos, infelizmente, cobras, lagartos e alguns jacarés que não conseguiram fugir. Mas desta vez foi impressionante. Até onça, macaco, tamanduá não conseguiu fugir. O bicho que você imaginar, nós achamos carbonizados", contou Haberfeld. 

Mesmo sendo um bicho ágil e rápido, pelo menos três onças morreram carbonizadas: Gaia e dois filhotes que foram encontrados em uma fazenda vizinha.

Outros três felinos da mesma espécie foram resgatados com patas queimadas e problemas pulmonares: Miranda e Antã estão sendo tratadas no Hospital Veterinário Ayty, em Campo Grande (MS); e Itapira, no Instituto NEX, em Corumbá de Goiás (GO).

Até agora, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, 577 animais silvestres foram resgatados no Pantanal. 

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