9 de out. de 2022

Morre a elefanta Pocha


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É com o coração pesado que anunciamos que a elefanta Pocha faleceu na noite passada. Ainda não sabemos a causa da morte, porém uma necropsia será feita, em breve, para nos ajudar determinar o que aconteceu. Enquanto Pocha estava em Mendoza, presenciamos, algumas vezes, pequenos sinais que nos causavam preocupação com problemas de saúde subjacentes, mas nada foi diagnosticado. Quando ela e Guillermina chegaram aqui no Santuário de Elefantes Brasil, houve um episódio em que ela se cansou e estava um pouco mais lenta para comer, mas depois de uma injeção de multivitamínico, ela melhorou. 
Há alguns dias, nós notamos que ela estava exigente com seu feno, embora ainda estivesse pastando e desfrutando de todas as frutas e legumes que lhe foram dados. Depois de uma dose de vitamina na noite passada, ela parecia mais resplandecente e, mesmo ainda cansada, seus olhos pareciam mais brilhantes. No entanto, quando voltamos para checá-la um tempo depois, descobrimos que ela havia falecido.
Guillermina, que estava dividindo os recintos perto do galpão com sua mãe, deu longos estrondos para chamar suas amigas - e era possível ouvi-las respondendo de volta para ela. Uma vez que abrimos os portões para que as outras meninas pudessem entrar, Bambi, Mara e Rana estavam lá esperando para estar com Guille. Rana se aproximou de Pocha com Guillermina por alguns minutos e depois voltou com as demais. A seguir, Bambi se aproximou, mas ficou à distância, com os olhos um pouco arregalados e parecendo preocupada. Depois de Bambi voltar para as outras meninas, Mara veio e ficou com Guille e Pocha. Depois disso, uma por uma, as outras meninas voltaram, desta vez Bambi se aproximou de Pocha, cheirando-a e acariciando seu rosto. Pouco depois da meia-noite, todas elas estavam em lados diferentes de Pocha, em silêncio e relaxadas, tendo um daqueles momentos de elefante que só eles entendem. Pouco antes das 4 da manhã, Maia também veio ficar com Guilhermina.

Cada menina ficou por perto, algumas por mais tempo que outras, observando o corpo de Pocha com respeito. Os elefantes têm uma habilidade inata de se comunicar uns com os outros de maneira que nunca entenderemos, e é isso que parecia estar acontecendo entre este grupo de companheiras de manada. Com todos os nossos anos trabalhando com elefantes, nunca vimos esse nível de apoio da manada dado a outro durante uma passagem. O apoio delas está se mostrando muito mais familiar por natureza do já presenciamos no Santuário no passado e, embora triste, também há algo incrivelmente bonito sobre o que está acontecendo.  Como está começando a entender o que aconteceu com Pocha, Guillermina tem sido muito gentil com a mãe dela. Ela a toca, a cheira e a acaricia com sua tromba, parecendo sentir que sua mãe não está mais aqui. Enquanto Guille não se posicionou completamente sobre o corpo da mãe (o que os elefantes às vezes fazem), ela manobrou muito gentilmente suas patas sobre as patas dianteiras de Pocha e ficou lá por um tempo.

Embora este seja um momento difícil, e possa ser difícil processar essa perda, sentimos gratidão a Pocha pelo amor e estabilidade que ela foi capaz de proporcionar a Guillermina por 24 anos. Uma vez que as duas estavam no Santuário, ela pôde ver sua filha experimentar a verdadeira alegria e começar a construir relacionamentos com outros elefantes - algo que pode ter sido apenas um sonho para Pocha. Houve momentos em que você podia ver Pocha assistindo Guille com as outras elefantas, e ela tinha o olhar mais resplandecente em seu rosto. Também temos uma grande sensação de alívio em saber  que ambas fizeram a viagem para o Santuário antes do falecimento de Pocha, assim Guillermina não está processando sua dor sozinha, ela agora tem outros elefantes a quem recorrer. Talvez Pocha tivesse um senso que seu tempo no Santuário era curto e encorajou Guille a se aventurar, aproveitar a vida com as amigas, explorar a natureza e descobrir verdadeiramente como a vida de um elefante deve ser. Em poucos meses, ela foi capaz de lembrar que o mundo era mais do que apenas um muro de concreto na frente dela. Na realidade, a vida poderia ser grande, bela e cheia de oportunidades , e ela também foi capaz de dar essa grande vida a sua filha com amor e um sentimento de imenso orgulho.

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