Bianca Turano, conhecida ativista pelos direitos animais, conseguiu uma façanha inédita: unir animalistas e vários outros grupos de defesa do meio ambiente para preservar o oceano e a vida marinha
Ativistas veganos e ambientalistas trabalham pela mesma causa, certo? Bom, em teoria esse deveria ser o caso mas na prática as coisas não funcionam bem assim. Isso porque o movimento ambientalista ainda é muito arraigado em uma visão antropocêntrica da natureza que percebe os animais humanos como portadores de direitos exclusivos que não são estendidos aos outros animais. Na visão ambientalista mais próxima do poder, a natureza deve ser preservada por causa dos serviços que ela presta à humanidade.
Mas uma campanha iniciada por Bianca Turano, advogada animalista e ambientalista baseada no Rio de Janeiro conseguiu criar pontes inéditas entre animalistas e ambientalistas em torno de uma causa: a água negra despejada sem tratamento no mar pela Petrobrás.
Tudo começou por conta de um documento ao qual Bianca teve acesso como advogada. O relatório, compilado pela DELEMAPH (Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico) do Rio de Janeiro, denunciou o despejamento pela Petrobrás de material tóxico e radiativo, conhecido como água de produção ou água negra.
Alarmada com a situação, Bianca criou um movimento em torno da questão, que foi batizado por seus integrantes Petrobrás: água negra não. A campanha atraiu o apoio de animalistas, ambientalistas, pescadores artesanais, petroleiros e outros grupos afetados pela indústria do petróleo. No dia 02 de outubro o grupo fez uma manifestação em frente à Petrobrás no Rio, atraindo a atenção da grande imprensa. O assunto, como a água negra da Petrobrás, vazou, depois de anos acontecendo sem o conhecimento da população.
Bianca diz que existem métodos de tratamento para tais efluentes, porém a empresa não os utiliza. Para piorar a situação, a legislação que rege tais processos é fraca, a fiscalização do Ibama é precária e das 110 plataformas da Petrobrás, somente 21 delas possuem estação de tratamento.
Além da poluição crônica de óleo, a água negra contem metais pesados como bário, berílio, cadmo, cromo, cobre, ferro, níquel, prata, zinco, além de elementos radioativos como rádio e estrôncio, além de biocidas, antiespumantes, inibidores de parafinas, anticorrosivos, entre outros.
“Como calcular tamanho dano? Como coadunar com as irresponsabilidades advindas de tais atos. contaminação de milhares de indivíduos sencientes, independentemente da espécie afetada, alteração da biota, insensibilidade para com a vida?”, questiona Bianca.
Segundo a advogada, o problema da poluição pela Petrobrás remonta aos primórdios da exploração de petróleo no país. Para se ter uma idéia da dimensão da situação, apenas em 2003 a Petrobras informou ao Ibama ter jogado na Bacia de Campos dois milhões de metros cúbicos de água de produção, o outro termo para água negra. Isso corresponde a 30 toneladas de óleos e graxas jogados sem tratamento.
Para tornar a situação ainda mais preocupante, existe o pré-sal, que se trata de um grande experimento de exploração cujos imprevistos podem ter conseqüências catastróficas, como a tragédia do Golfo do México em 2010 demonstrou. “A exploração do pré-sal está parada por conta da discussão sobre os royalties,” diz Bianca, e indaga: “Estamos realmente preparados para o pré-sal? Existe uma estimativa do dano para a vida marinha que esse material toxico causa?”
Quanto ao protesto do dia 02 de outubro, Bianca diz que “foi bonito ver o veganismo estampado ali em meio a um encontro entre ambientalistas e petroleiros.” Ela defende a idéia de que os animalistas devem estar inseridos em outros grupos sociais e promover o debate de forma respeitosa e fundamentada.
“Tenho circulado por esses ambientes há alguns anos, sempre com muito cuidado, conhecendo pessoas legais, que gostem de trocar ideias e formar parcerias respeitosas,” ela conta.
A campanha contra a poluição marítima com água negra com certeza será uma campanha longa e árdua, considerando os atores capitalistas envolvidos. Por isso o grupo continuará educando o público sobre o problema e exigindo justiça ambiental e respeito para com indivíduos - independentemente de sua espécie. Para facilitar o acesso do público em geral, os ativistas criaram um blog e uma página no Facebook.
Nenhum comentário:
Postar um comentário