André Trigueiro |
O jornalista e ambientalista André Trigueiro recentemente esteve debatendo na rádio CNN sobre abate humanitário.
Logo no início do debate ele disse que ouviu de uma de suas leitoras que o termo ‘abate humanitário’ é um oximoro tão absurdo quanto o termo ‘guerra santa’. Em ambos os casos substantivo e adjetivo sentam desconfortavelmente lado a lado por serem conceitos incompatíveis.
Humanitário alude ao melhor do espírito humano, ou seja, a compaixão e a ética.
Matar jamais pode ser considerado como algo ético, principalmente para satisfazer o prazer de outro ser.
Para crédito de Trigueiro, ele descreveu o abate humanitário como algo horrível. O que me leva à crítica: se é tão horrível, para que defendê-lo ou mesmo considerá-lo como remotamente ético?
Ele cita que alguns médicos dizem que a proteína da carne é necessária. Mas com certeza ele deve saber que esses médicos estão errados.
Por que não apresentar a visão correta de que a carne é uma escolha, e não uma necessidade? Essa é a posição oficial da American Dietetic Association. Além disso, os milhões de vegetarianos no mundo que vivem sem carne são provas vivas deste fato simples.
Eu não sei se Trigueiro é vegano (eu espero que sim, já que ele é ambientalista), mas ele perdeu uma oportunidade de apresentar uma verdade em um momento em que ela se fazia necessária.
Essa verdade não é para satisfazer o ego dos veganos que esperam ter seu ponto de vista representado, mas sim pelos 29 milhões de bovinos, 32 milhões de suínos e cinco bilhões de frangos que foram assassinados no Brasil em 2010, segundo dados apresentados durante o programa pelo próprio jornalista.
Será que tanto sofrimento não merece mais indignação da parte daqueles que já tem essa consciência?
O programa encerrou concluindo que a humanidade não está preparada para parar de comer carne. Mas o que isso quer dizer exatamente? A humanidade nunca está preparada para nada: ela tem que ser preparada para qualquer mudança. Mas isso não vai acontecer se nos determos em falsas medidas de proteção animal adotadas como anestesia moral.
Ao invés de perdermos tempo com abate humanitário, vamos conversar sobre veganismo e educar as massas sobre o tema. Isso sim vai fazer uma diferença para os animais e o planeta.
Ouça o programa:
4 comentários:
Concordo contigo...
A mudança deve ser feita, conscientizando as pessoas de uma boa alimentação... não só a carne, mas açúcares, gorduras, etc...
Fico doida quando vejo pessoas fazendo trabalhos voluntários e oferecendo aos mais humildes alimentos que só fazem mal à saúde!
Enfim... cada um faz a sua parte, e vamos aos poucos fazendo a mudança!
Esperança!
Lobo e demais coleg@s comentaristas, acho esse assunto tão controverso... sinceramente. Sou receosa de ser muitíssimo mal interpretada.
Tenho o maior respeito pelo jornalista e colega de profissão na área ambiental, André Trigueiro, que é, também, assim como eu, Espírita.
Percebi que o programa, meu entendimento a respeito do que ouvi, quis trazer à tona discussão sobre o tema, que é, deveras controverso, ambíguo, como ele mesmo coloca no início da matéria.
Eu, que não como animais, me vejo, muitas vezes nesse controverso, no limiar entre militar, espalhar e difundir meu entendimento sobre o sofrimento e crueldade aos animais e acatar que, INfelizmente, o planeta não vai parar de comer carne nesse momento ou a médio prazo.
Deixo claro aqui que não estou concordando com qualquer tipo de abate; em qual situação a nomenclatura abate se coloca, é sinônimo de crueldade e dor.
Contudo, eu também preciso entender que, enquanto a sociedade não for consciente e planetária, eu tenho que tentar minimizar o sofrimento de animais em abatedouros de uma forma ou outra.
Fico entre a cruz e a caldeirinha!
Se a minha militância e divulgação em prol dos animais terminasse hoje com abatedouros, zoos e touradas, morreria sabendo que minha passagem na Terra não foi a passeio.
Mas enquanto não acontecer essa compreensão social, eu preciso, igualmente, tentar entender, infelizmente, as dualidades do tema.
Essa dualidade me persegue, me rasga e me deixa triste, me corroí e me faz duelar comigo mesma.
Por esse motivo eu, talvez, entenda as colocações do Andre Trigueiro, que são, em meu entender, similares as minhas.
Parafraseando a coleg@ acima,"cada um faz a sua parte, e vamos aos poucos fazendo a mudança!"
Oi Paula,
Eu entendo o seu ponto de vista completamente. O que eu discordo é que o abate humanitário represente alguma melhora para os animais. Au contraire! Eu acho que esse tipo de discussão serviu apenas para fazer com que alguns vegetarianos voltassem a comer carne. Como o próprio André diz, o abate humanitário faz sentido econômico para as empresas e podemos ter certeza que se não fosse isso elas jamais implementariam qualquer regulamento para fazer a morte menos terrível (mas vamos ser honestos, considerando o volume de animais, será realmente possível implementar o abate humanitário em toda a parte? Quem vai fiscalizar?) Minha pergunta é: para que colaborar com essa indústria tão nefasta? Eu não sou contra que elas se ocupem disso enquanto elas existirem; o que eu sou contra é que pessoas e organizações ligadas ao meio ambiente e os animais colaborem com a indústria da exploração de animais para que elas aumentem seus lucros usando um discurso baseado em compaixão. Para cada minuto gasto falando sobre essa estratégia de marketing, poderíamos estar falando dos benefícios de uma dieta a base de plantas.
Lobo, certamente. Não discordo em nada do que nós VEGetariANOs colocamos sobre. Daí minha dualidade no assunto.
O dito abate humanitário foi criado, e esta sendo estimulado, por conta do lucro; apenas o lucro.
E o que cita é verdade pura "se não fosse isso elas jamais implementariam qualquer regulamento para fazer a morte menos terrível"
Querem que o animal, literalmente, se dane. Se vou vender menos agredindo cruelmente um animal, minimizo algumas brutalidades e vendo mais.
Eu nem consegui assisti as cenas que foram ao ar no Globo Rural, 30 dias atrás, quando o assunto foi tema da pauta do programa.
Abate pra mim é abate. Inclui dor, penitência, vilania e maus-tratos.
Mas diante do instalado nos abatedouros hoje, quem não deseja que o processo seja revisto e refeito de uma forma ou outra?
E por isso que confesso ser necessário debates e mais debates sobre o tema, no sentido de trazer à tona todas as implicações que existam.
Tenha certeza que temo muito que doravante pessoas sem o real esclarecimento digam "mas o abate é indolor e tratam os animais com carinho..." e assim fragilize e fragmente nossa luta pela causa animal.
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