Recentemente a imprensa internacional noticiou que a Holanda estuda proibir duas formas de matança de animais praticadas pelos islâmicos (método halal) e judeus (método kosher). A iniciativa partiu de vários grupos, entre eles o Partido dos Animais.
A proibição é justificada porque ambos os métodos não incluem o atordoamento antes da morte, ou seja, o animal morre pelo sangramento, o que é um processo mais lento. Ambas as práticas são proibidas na Nova Zelândia.
A minha primeira reação foi ver a medida como mais uma bem-estarista, que apenas regulamenta a exploração animal. O resultado final será o mesmo: a morte. Faz diferença ser atordoado antes de morrer? Talvez sim, mas de um ponto de vista do veganismo matar de maneira ‘mais humana’ não basta.
Mas depois de meditar um pouco sobre essa história eu comecei a ver valor na iniciativa. Porque se olharmos para ela além da superfície, o que está em questão aqui são os privilégios religiosos que algumas minorias exigem, o que pode ter sérias implicações para outros grupos.
No Brasil, um equivalente que me ocorre é a exceção feita para praticantes de religiões que envolvem o sacrifício de animais. Eu já ouvi pessoas esclarecidas defender esse tipo de crueldade usando o velho e cansado argumento da tradição, como se a mera menção da palavra fosse o suficiente para pôr um fim a qualquer argumentação.
O fato é que essa justificativa somente é usada porque se trata de animais. Ninguém defenderia uma tradição que envolvesse sacrifício humano ou mutilação, como no caso das mulheres africanas que têm seu clitóris removido.
Obviamente proibir em si não resolve, como é o caso da farra do boi, que continua acontecendo apesar da lei que a veta. Mas é um passo.
A França tomou um passo corajoso e proibiu as burkas em respeito à cultura secular que prevalece naquele país. A acusação fácil de fazer é que se trata de uma medida discriminatória e racista, o que não é verdade: religião e raça são duas coisas distintas. Condenar o sacrifício de animais nas religiões afro-brasileiras não tem nada a ver com racismo e sim com a expectativa de um alinhamento com a evolução ética da democracia secular onde a religião pode ser praticada sem perseguição. Porém, liberdade de religião não pode significar oprimir e matar, no caso mulheres e animais.
Por isso apoio a iniciativa na Holanda, assim como a iniciativa na França. porque vivemos uma era em que o secularismo se encontra sob ataque pelo conservadorismo religioso. E isso é preocupante tanto para humanos quanto para não humanos. Não devemos temer acusações de racismo quando elas não tem fundamento. Muito pior do que apenas parecer ser racista é ser especista e misógino na prática, usando a religião como escudo.
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