4 de mai. de 2011

Direitos animais são também uma questão de semântica

Quem acompanha a ANDA regularmente já deve ter notado que aqui as pessoas que cuidam de um animal em casa são chamadas de tutores. Aqui no Lobo Repórter, eu uso o termo ‘guardião’ e sempre me refiro aos animais ditos selvagens como ‘animais livres’. 

 Melhorar a maneira como nos referimos aos não-humanos faz parte da mudança de paradigma que busca desconstruir o especismo no dia a dia para que um dia possamos viver em um planeta onde os animais que não pertencem a nossa espécie recebam o respeito que merecem. 

 Um novo jornal acadêmico chamado The Journal of Animal Ethics, que ganhou uma matéria de destaque no jornal inglês Daily mail, trata exatamente deste assunto. Segundo a publicação, o jornal acadêmico sugere que revisemos nosso vocabulário em relação aos animais. Muitas das sugestões são específicas da língua inglesa, mas o conceito em geral se aplica a qualquer língua. 

 Uma delas trata dos animais que convivem conosco em casa. Em inglês eles são chamados de ‘pets’, uma palavra que já se tornou bastante comum no Brasil também. O jornal sugere que esse termo seja substituído por ‘animais de companhia’, que realmente é melhor que ‘bicho de estimação’, o termo mais comum no Brasil. O jornal enfatiza bastante a questão dos animais selvagens, aqui no Brasil muitas vezes chamados de animais silvestres. Segundo o editor, o termo selvagem possui uma denotação pejorativa. Alude ao barbarismo, ao não civilizado, ou seja, representa os animais como seres violentos. Animais livres seria a forma mais sucinta e apropriada de se referir aos animais que ainda tem a sorte de viver no habitat que lhe é de direito. 

 Existem muitas situações no cotidiano em que nos deparamos com fraseologias especistas tão inculcadas em nosso vocabulário que elas passam quase desapercebidas. Outro dia durante uma conversa surgiu a expressão “m**** dois coelhos com uma cajadada só”.  Alarmado com a violência da expressão, que há muito tempo eu não escutava, eu parei para pensar como essa expressão poderia ser consertada. Por fim a transformei em “salvar dois coelhos com um resgate só”. E por aí vai. 

 Não existe uma regra fixa, mas é importante que a medida que nos deparemos com essas expressões que as repensemos e criemos um vocabulário livre de especismo. A linguagem molda nossa percepção do mundo, portanto ela é uma ferramenta crucial para os direitos dos animais. 

 E você, tem alguma expressão que usa para substituir uma outra de cunho especista?

4 comentários:

Paula RB. disse...

Lobo, como eu adoro ler suas crônicas. Sempre pontuais e tratando com dignidade o Mundo Natural (que eu também uso sempre que me refiro ao espaço que o ser humano não esta presente; aprendi em minha 1a. Especialização).

Pois bem, eu era usuária dessas máximas, 2 coelhos numa... que burr -ice e ada e por aí segue. Se cada um dos leitores aqui fizer um apanhado, verão que existem muitas e todas pejorativas e depreciativas aos animais.

Parei com isso no exato momento que também parei com termos judiar, denegrir e que seguem essa linha.

Vou pensar numa substituição bacana e envio ao Blog.

loboreporter disse...

Ei Paula, esse tema da semantica e muito interessante e eu sei que existe pelos menos um livre publicado fora do Brasil que trata do assunto. Estarei voltando sempre ao assunto e mais uma vez obrigado pela participacao! Beijos! Lobo

bruna lazarini disse...

Focando no especismo, substituições que me lembro agora:
"burrice" virou "estupidez";
"porcaria" vira "bobagem";
"tinha 4 gatas" vira "morava com 4 gatas" ou "cuidava de 4 gatas".
Mas criativa mesmo foi a do resgate dos dois coelhos...Ótimo!

loboreporter disse...

Ei Bruna, bem lembrado: burrice, porcaria, galinhagem etc, sao termos especistas. Chamar mulher de vaca entao nem se fala, e especismo e misoginismo junto. Obrigado pela colaboracao!