11 de jun. de 2010

Proteger florestas também é direitos animais


Essa semana uma ameaça se ergueu contra as florestas do Brasil. Um novo texto do Código Florestal brasileiro, cuja versão vigente inclui o resultado de muitas conquistas legislativas na área ambiental, quer retirar alguns dos itens mais importantes desse dispositivo legal para simplesmente liberar o desmatamento. O novo texto retira a reserva legal de 20% de florestas em propriedades particulares, retira a função social da terra, o que transfere para o estado a conta de qualquer prejuízo ambiental. O que está se propondo é “a socialização dos custos da devastação e a privatização dos lucros imediatos que ela gera”, diz Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace.

O relator do projeto é o deputado Aldo Rabelo, do PC do B de São Paulo, que em sua apresentação no dia 08 de junho, disse que o projeto é dedicado aos ‘agricultores’ do Brasil e que o boi é o animal favorito do brasileiro. Segundo o Greenpeace, Rabelo evoca uma mistura de marxismo, teísmo e populismo nacionalista para criar um discurso fictício cujo objetivo nada mais é que uma desculpa para o agronegócio fazer o que quiser com as florestas do país. Na leitura de seu relatório, Aldo Rabelo agradeceu a três conhecidos ruralistas no Congresso: Moacir Micheletto, Homero Pereira e Anselmo de Jesus.

Marina Silva, do Partido Verde, convocou a imprensa no mesmo dia e condenou enfaticamente o novo texto, dizendo que alterações no código devem visar maior proteção das florestas, e não o contrário. Em seu encontro com a imprensa, Marina disse que as florestas são um bem do povo brasileiro e ela está certa: o povo brasileiro deve ver suas florestas e outros biomas como seu maior tesouro.

Mas o que geralmente fica fora do discurso ambientalista é que as florestas são, principalmente, o lar de muitos indivíduos não-humanos que dependem delas para sobreviver. As florestas são sua casa, sua fonte de sustento e sua referência de vida. Sem elas, eles morrem.

A narrativa ambientalista geralmente se refere a esses indivíduos como parte de uma ‘biodiversidade’. Mas para o movimento dos direitos animais, o que existem são pessoas não-humanas que têm todo o direito a usufruir seu lugar nesse planeta sem ser incomodados por membros inescrupulosos de uma outra categoria animal que invade seu espaço para destruí-lo.

Diferenças retóricas a parte, os atuantes do movimento pelos direitos animais devem apoiar o movimento de proteção das florestas como uma forma também de se proteger os interesses dos não-humanos livres que se vêem acuados em espaços cada vez menores e em populações que muitas vezes se reduzem a centenas. Sua situação é muita parecida com a de populações indígenas que sempre viveram nas florestas e nunca as destruíram. Pelo contrário, as preservaram e as adoraram como mães.

Para os seres que vivem na floresta, a sua destruição tem um efeito devastador imediato. Quando a moto-serra chega, ela põe abaixo todo um sistema de sustento de vida. É o ataque do horror mecânico contra a poesia da natureza. Para quem não vive na floresta, somente é possível imaginar, e muita vagamente, o sofrimento que o desmatamento causa.

Para assinar um abaixo-assinado contra o novo texto do Código Florestal, por favor acesse aqui. E fique de olho nesse debate, manifestando sua opinião junto ao legislativo, que estará decidindo o rumo desse projeto nefasto. O telefone da câmara dos deputados (ligação grátis) é 0800 619 619.


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4 comentários:

Nacir Sales disse...

Na origem da questão está o divórcio entre o homem e a natureza já existente em eras pré-socrática mas aprofundado com os sofistas, ao estabelecerem o homem como a medida de todas as coisas, sentença assinada por Protágoras, fundando o relativismo. De lá para cá, Aristóteles ao seu modo, Descartes sob as demandas de seu tempo e finalmente Rousseau, aprofundaram o antropocentrismo que deu no que deu: a insustentabilidade de um modelo e a necessária ruptura que cabe a nós, ao nosso tempo promover, reconectando nossa sociedade ao corpo que pertencemos.
O resgate tem nome e sobrenome: utilitarismo. O preço do resgate é o investimento de toda nossa inteligência para explicar a inteligência/necessidade deste câmbio. O LOBO REPÓRTER faz a sua parte, com maestria!
Nacir Sales
http://www.adequacao.com.br/blog

loboreporter disse...

Nacir:

Muito obrigado pelo comentário culto e oportuno e pelas palavras gentis sobre o blog. Eu espero poder fazer uma pequena diferença nesse mundo, porque fazer nada simplesmente não é uma opção. Espero te ver mais por aqui. Um ótimo fim de semana para você!

Paula RB. disse...

Infelizmente o homem não se vê inserido no mundo natural; sente-se a parte desse e numa categoria elevadíssima e distante, muito longe de suas obrigações planetárias.
Esquece que destruindo seu habitat, seu bioma, acaba por reforçar que é uma espécie que muito degrada e pouco soma na harmonia que existe na natureza, infelizmente.

Caro Lobo, tomei a liberdade de copiar o texto - devidamente nominado a seu Blog - e coloca-lo na Lista Ambiental qual faço parte, como profissional da área.

Em tempo, desejo a ti e aos colegas do blog um final de semana de sorrisos.

loboreporter disse...

Paula, essa nossa distanciação da natureza é a nossa queda. Fique sempre a vontade para reproduzir e circular textos publicados neste blog, é para isso que ele existe: para disseminar informação e idéias. Quanto mais longe elas forem, melhor. Um grande abraço e um ótimo fim de semana.