29 de abr. de 2010

ONG dos EUA financia comerciantes que exploram animais

A ideia é boa e original. Kiva usa o alcance global da internet para conseguir empréstimos para pequenos comerciantes no terceiro mundo que precisam de ajuda para iniciar seu negócio. Quando eu descobri o website quatro anos atrás, gostei da ideia e me tornei um dos muitos credores. Você escolhe um pequeno negociante de sua preferência, transfere o crédito para ele e quando o total é alcançado você recebe um e-mail avisando. O dinheiro é restituído como crédito quando o beneficiário faz o pagamento e o ciclo começa de novo.

Porém, à medida que fui explorando melhor o website, percebi que a Kiva faz empréstimos para pessoas que exploram animais e isso entrou em conflito com o fato de que os animais não são propriedade humana e eles não devem ser explorados por ninguém e em nome de nenhuma causa, mesmo que aparentemente “filantrópica”. Compaixão, ética e solidariedade devem ser princípios básicos nas propostas de ajuda. Jamais a exploração deve estar embutida como parte da suposta solução.

Eu resolvi retirar o meu dinheiro da Kiva, quando percebi que um dos seus beneficiários era um homem na Bolívia que, além da atividade para a qual ele necessitava do empréstimo (cada comerciante ganha uma página com um perfil, na qual expõe o que quer fazer e quanto de dinheiro já conseguiu), ele cria “galos de briga”, ou seja, uma pessoa que fornece animais para rinhas de galo. O texto que descrevia essa atividade faz uma forte apologia dessa atividade violenta:

“Seu principal trabalho é como motorista de táxi. Ele é solteiro e seu desejo de melhorar sua vida é evidenciado pelo fato de que ele também cria galos de briga. Rinhas de galo (…) foram criadas pelos humanos para sua diversão. A origem dessas lutas está na Ásia (…). Na Roma antiga, galos de briga era usados para inspirar coragem. Mais tarde, essa prática foi trazida para as Américas pelos conquistadores espanhóis.” 

Achei estranho que esse texto tivesse sido liberado para figurar no website da Kiva. Erros acontecem, por isso eu resolvi escrever para eles, alertando-os para o fato. Essa foi a resposta que eu recebi:

“Nós apenas proibimos empréstimos para atividades de negócios que são ilegais no país de origem ou empréstimos que, mesmo legais, violam as principais convenções da ONU. Nós confiamos que nossos parceiros de campo tomem suas decisões porque eles são familiarizados com as comunidades e culturas onde seus emprendedores vivem e trabalham. Ao passo que um empréstimo pode parecer ofensivo para uma pessoa, ele pode ser completamente normal em outro contexto cultural.”

Fiquei surpreso com essa política absolutamente questionável em relação à ética, por isso me sinto aliviado em ter me dissociado dessa ONG com um visão um tanto quanto limitada de justiça social. De fato, me arrependi de um dia ter apoiado essa organização que, no único contato que fiz com a qual, me deu uma resposta impessoal e que totalmente ignorou o meu motivo de preocupação.

Eu tive a impressão de se tratar de uma entidade com a mesma abordagem de uma empresa quando recebe uma reclamação: se não gostar, procura outra. Bem-estar animal não parece estar estar na agenda da Kiva. Por se tratar de uma empresa de ação global, usar a velha desculpa de ‘contextos culturais’ para ignorar o sofrimento alheio não cola. Então seria aceitável financiar alguém que forneça equipamento para mutilar genitalmente mulheres em um país onde isso é culturalmente aceito?

Justiça deve ser universal e ir além do que é tecnicamente legal. Ela tem que ser aplicada para todos os seres vivos que habitam este planeta e para a natureza que mantém esse organismo vivo em funcionamento. A perspectiva vegana não comporta essa visão parcial e excepcionalista do elemento humano na Mãe Terra. Por isso eu convido todos os veganos que estão lendo este texto a pesquisarem com muito cuidado a política de uma ONG antes de dar seu apoio a qualquer instituição. Você poderá estar apoiando a exploração animal por tabela.

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