A verdade sobre a novela Caras e Bocas
"Esta é a primeira vez que falamos publicamente da novela CARAS E BOCAS, da TV Globo, que terminou no dia 8 de janeiro, após quase 10 meses de exibição e com altos índices de audiência.
Durante todo este tempo, acompanhamos a novela diariamente, que não é de nosso costume, e também tivemos contato com a Direção da Globo sob vários aspectos da mesma. A novela teve um mérito, mostrou o que os chimpanzés são capazes de fazer, sua inteligência, sua esperteza, sua capacidade de planejar o futuro, seus sentimentos, praticamente mostrou o que temos falado nos últimos 10 anos, sua humanidade.
Por outro lado, a novela teve seu lado negativo – que alertamos a Globo em seu momento: a falsa imagem que deixa na sociedade de que um chimpanzé pode viver em casa de humanos, andar pela rua, relacionar-se com todo tipo de pessoas, sem que um acidente trágico possa ocorrer, como neste site relatamos no passado.
Agora que o programa FANTÁSTICO, exibido no dia 10 de janeiro, revelou que o destino de Kate foi o mesmo de onde saiu, o Zoológico do Parque de Diversões Beto Carrero World, em um ilha mínima (180m2), exposta ao público, nos sentimos em liberdade de contar a verdadeira história do destino de Kate.
Durante o desenrolar da novela, a Rede Globo fez uma proposta ao filho de Beto Carrero para a compra de Kate. No início ele aceitou. A idéia era entregá-la no Santuário do GAP em Sorocaba, onde moram sua mãe e dois de seus irmãos, e onde poderia desfrutar da vida longe da exploração comercial, sem visitação pública, em recintos de 1000m2 ou mais. Quando foi oficializar a operação, por norma do IBAMA, a Globo deveria informar ao Beto Carrero World o destino final da Kate, visto que a Globo não tinha qualificação para recebê-la, já que não é um Mantenedouro de Fauna Exótica, como a Lei exige. Quando se mencionou o Santuário do GAP eles não aceitaram. Por quê? Vamos relatar aqui um caso judicial que tivemos com Beto Carrero nos últimos anos, e que motivou essa retaliação.
CASO EX-CIRCO GARCIA: O Circo Garcia foi um dos circos que mais chimpanzés teve no Brasil. Anos atrás chegou a ter 27 em jaulas, dentro de duas carretas de transporte. Reproduziam intensamente, chegando a produzir uma dúzia de bebês em poucos anos.
O circo teve dificuldades financeiras mais de 5 anos atrás e terminou fechado. Sua proprietária, Carola Garcia, tinha aposentado os chimpanzés em uma pequena chácara em Vargem Grande Paulista, junto ao Santuário do GAP dessa localidade, de propriedade de Selma e Sonia Mandruca, que mantinham uma relação de amizade com Carola.
Quando Carola adoeceu, ficou hospitalizada, Beto Carrero a visitou e a fez mudar, em princípio, uma doação já realizada por ela, protocolada no IBAMA, dos 14 chimpanzés que lhe restavam e estavam na chácara. Ela falou então em dividir os primatas: 7 para cada um. Porém, aquilo ficou apenas na promessa, porque ela morreu antes mesmo dos chimpanzés serem transferidos para algum lugar. O IBAMA “lavou as mãos”, e apesar de ter um documento protocolado para doação dos 14 chimpanzés para Sorocaba, não quis tomar partido. Ante essa situação, e porque nós já estávamos cuidando daqueles infelizes chimpanzés a mais de um ano, com funcionários, comida e toda assistência devida, pois Carola não tinha como sustentá-los, decidimos, entre os Santuários de Sorocaba e do Paraná, pela compra da herdeira do espólio do Circo, a chácara com todos os chimpanzés e instalações. Foi tudo realizado transparentemente, com registro em cartório, e aí o IBAMA nos deu os documentos para transferir os chimpanzés; uma parte para o Paraná e outros para Sorocaba.
Em uma medida surpresa, e ocultando da Justiça que nós éramos os legítimos proprietários das instalações e dos chimpanzés, Beto Carrero entrou com uma ação judicial e conseguiu uma liminar para retirar 7 chimpanzés do ex-Circo Garcia, alegou que lhes pertencia por uma promessa da ex-dona falecida. Uma juíza de São Paulo deu a liminar, e eles entraram com força policial, com armas expostas, no Santuário do Instituto Anami do Paraná, afiliado ao GAP e levaram 5 chimpanzés. O Santuário do Paraná entrou com uma ação de restituição de posse e após vários meses, conseguiu no Tribunal Regional de São Paulo a mesma e fomos lá e retiramos os chimpanzés seqüestrados por Beto Carrero.
Após o fracasso do intento de seqüestro, eu me reuni com Beto Carrero em São Paulo, para tentar acabar com as brigas e que ele transferisse os 6 chimpanzés restantes, que ele já tinha em algumas ilhas minúsculas de seu parque, por onde um trenzinho com visitantes passa a cada meia hora, infernizando a vida daqueles infelizes. O teor daquela conversa – muito positiva – foi relatado no site a raiz da inesperada morte de Beto Carrero, uma semana após a nossa conversa.
O filho de Beto tentou insistir com o processo dos 7 chimpanzés, porém, novamente perdeu o recurso semanas atrás, sendo fortemente desqualificado pelo Tribunal por sua tentativa de seqüestro dos chimpanzés. Uma ação indenizatória dos proprietários do Santuário, de vários milhões, corre no Judiciário do Paraná. Pessoas idosas, de mais de 80 anos, que tiveram que receber tratamento médico urgente após a invasão policial comandada pelos advogados de Beto Carrero quando levaram os 5 chimpanzés.
QUEM É KATE? A novela “Caras e Bocas” precisava de um chimpanzé macho. Como o único em condições de ser usado era Kate, escolheram-na, que sempre foi tratada como um macho na novela, inclusive nos capítulos finais, arrumando uma namorada, que era ela mesma, fazendo ambos papéis.
Kate nasceu em um zoológico do interior de São Paulo. Ela e sua mãe Margarete foram transferidas ou vendidas para um Criadouro Comercial que existia na época. Kate terminou sendo vendida para um dos circos de Beto Carrero. A Margarete continuou tendo bebês, até vir para o Santuário do GAP de Sorocaba, junto com seus dois últimos filhos: Noel (agora com 12 anos) e Emílio (com 10 anos).
O SILÊNCIO: Nós não falamos nada até hoje, apesar de sermos questionados e até criticados por não dar um posicionamento, pois a participação de um chimpanzé na novela tinha sido aprovada pelo IBAMA, e pouco poderíamos fazer. Vale lembrar que o próprio IBAMA, e seu setor de Fauna, publicamente, rechaçaram e condenaram o uso de animais nesse tipo de programa.
Sabíamos que a Globo usava muitos truques e recursos de computação para substituir o trabalho real do chimpanzé, o que reduzia o estresse do mesmo. A maioria das pessoas, no entanto, não percebia. Praticamente nenhum dos atores da Globo realmente ficava contracenando com Kate.
Por outro lado, a novela tinha o mérito de mostrar o delito que é o tráfico de animais, como os circos maltratam os mesmos, o fato de Kate (“Chico”) ter fugido de um circo e o destino final da personagem era um Santuário para a Fauna Silvestre, como foi falado no último capítulo. Por esse lado existia sintonia entre a novela e os princípios do GAP.
O triste de tudo isto, no fim, é o destino de Kate, que voltou para um zoológico, para ser explorada e enriquecer empresários que pouco se importam com a vida destes seres inocentes tão próximos a nós.
Dr. PEDRO A. YNTERIAN
Presidente, Projeto GAP Internacional"
Nenhum comentário:
Postar um comentário