Eu tive um dia estranho hoje. Na hora do almoço eu me encontrava em um restaurante vegano, saboreando a variedade e beleza de um menu a base de plantas com uma amiga que é residente do Trigueirinho onde ela é responsável por cuidar de animais abandonados e doentes. Nós falamos de espiritualidade e da alegria de conviver com animais harmonicamente. Porém uma nuvem escura pairava no ar hoje porque enquanto nós saboreávamos nossa refeição nós lembramos que na província de Bara, no Nepal, milhares de animais estavam sendo exterminados em homenagem a deusa hindu Gadhimain.
Imaginar o que ocorre nesse festival que acontece a cada cinco anos é evocar uma visão do inferno. Centenas de milhares de animais são mortos violentamente, em apenas dois dias (esse ano, hoje e amanhã). Os peregrinos obviamente pagam pelos animais, o que torna esse holocausto uma empreitada altamente lucrativa para os sacerdotes do templo da deusa.
Tudo começa com o sacrifício de búfalos, cabritos, porcos, galos e ratos. As gargantas dos animais são cortadas com uma faca, sem pressa, porque segundo a superstição, quanto mais lenta a morte, mais feliz a deusa fica. Em seguida, matadores completamente embriagados entram nos currais onde cerca de 20 mil búfalos esperam por seu fim trágico. Esses homens, armados de espadas, machados e khukuris (um tipo de faca) começam a aleatoriamente cortar os pescoços dos búfalos.
Esses matadores não conseguem cortar as cabeças dos animais de uma só vez por causa da grossura do seu pescoço. Para facilitar sua tarefa, primeiro eles cortam as pernas de trás dos animais para que eles caiam no chão. Então eles começam a golpear seus pescoços até que a cabeça se separe do corpo. São necessários cerca de 25 golpes para finalizar essa tarefa monstruosa. O sofrimento que esses animais passam é inimaginável.
Sendo uma pessoa que se opõe ao sofrimento e exploração animal, qualquer tipo de exploração me choca. Eu sei também que em todo momento milhares de animais estão sendo mortos em matadouros, laboratórios ou sendo submetidos a uma morte ainda em vida através da exploração.
Mas há eventos que me chocam mais. Talvez seja o fato desse massacre ser feito em nome de uma superstição religiosa, manipulado por falsos profetas que visam lucro e vendem ilusões e desrespeitoso de qualquer padrão mínimo de decência em relação ao sofrimento alheio.O mundo parece um lugar muito feio quando isso acontece. Religião deveria ser crescimento espiritual e amor não ritualismo macabro às custas de vidas alheias.
Esse é caso dos budistas nepaleses que se opõem ao massacre e protestaram contra ele. As imagens obtidas pelas agências de notícia deixam clara a diferença de energia entre os hindus que matam e os budistas que celebram a paz.
Talvez haja esperança. Cinco anos atrás esse massacre passou desapercebido da atenção internacional. Esse ano não. O massacre foi assunto em algumas das principais publicações do mundo. Quem sabe não estamos a caminho de uma mudança? Não podemos deixar que práticas religiosas que exploram o sofrimento e a ignorância cubram o mundo com a sua treva.
Mas quando eu penso que amanhã o derramamento de sangue continua ...
Um comentário:
quando li isso fiquei entre o nojo e a perplexidade, sem saber qual dos sentimentos melhor retrata o ato em si.
Sandice é o nome disso. San-di-ce!
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