28 de ago. de 2009

Zoológicos: a morte em desfile

Aproveitando o debate sobre a tragédia atualmente se desenrolando no zoológico de Goiânia, gostaria de compartilhar um pequeno texto com uma meditação sobre as metáforas de poder disfarçadas como ciência e educação que sustentam a ideologia do zoológico.

John Berger é um crítico de arte e novelistas inglês muito conhecido por um livro chamado Ways of Seeing. Nesse livro, Berger analisa entre outras coisas o modo humano de olhar os animais na arte e ele inclui uma análise da existência de zoológicos que vale a pena ressaltar. O texto abaixo é uma adaptação livre de uma análise do texto de Berger, cuja fonte é citada abaixo.

Ao contrário do que parece, os zoológicos existem há relativamente pouco tempo e são uma consequência da industrialização que afastou os humanos dos não-humanos. Enquanto por um lado nosso contato com animais ditos domésticos cresceu (ao custo da total falta de liberdade desses animais aceitos na casa, tratados como plantas em vasos), os outros animais desapareceram da vista. E assim nasceu o jardim zoológico como um simulacro da natureza derrotada pela tirania humana.

O zoológico de Londres, o primeiro do mundo, foi fundado em 1828 e assim como o museu, ele é um campo paradoxal de homenagem: mata-se a essência para preservar a imagem. Nós destruimos o mundo natural e construímos templos artificiais para homenageá-lo em forma de mostra. No zoológico, observa-se criaturas vivas como se elas estivessem mortas. Os animais habitam um mundo ‘natural’ artificial, um mundo simulado ou virtual de pedras e árvores, falsos como elementos de cena de uma peça teatral.

Os animais vivem isolados e não interagem com outras espécies, e eles se tornam dependentes como animais de estimação para se alimentar e ter interações sociais, incluindo do suprimento de parceiros para reprodução. O zoológico para onde as pessoas vão encontrar animais, observá-los, vê-los, é, na verdade, um monumento à impossibilidade de tais encontros. Cada jaula é uma moldura em torno do animal preso nela. Os visitantes vão de jaula em jaula, assim como os visitantes de uma galeria de arte que param em frente a uma pintura, e em seguida vão para outra pintura e assim por diante. A diferença é que no zoológico a visão está sempre errada.

Donna Haraway descreve como se pode tracear o estudo científico de primatas à um período de ansiedades em relação à família burguesa (Simians, Cyborgs and Women: the reinvention of nature), e revela a natureza ideológica do fato científico. Não importa o quão não-confiável os motivos ou o método científico, comportamentos selvagens e fora de controle pode ser capturados, observados e presumidos compreensíveis. Essa lógica falha é enraizada no positivismo científico, que isolava e enjaulava o sujeito de estudo. No zoológico, os animais cativos executam uma função simbólica mas passiva para endossar o poderio científico, econômico e colonial.

Fonte: Vivaria.net (Why Look At Artificial Animals?)


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2 comentários:

P. Biase disse...

Excelente matéria.

Odeio zoológicos, gaiolas, aquários e tudo o mais que priva o animal de sua liberdade.

Chega de escravidão !Animais não foram feitos para entretenimento, lazer, muito menos para servir aos humanos.
Libertação já!

Paula RB. disse...

Caro Lobo, acrescentar mais o que diante do brilhantismo das tecladas?
Parabéns e faço coro com a grande maioria do blog: zoológicos devem acabar!