Lewis E. Bollard
(tradução e adaptação: Lobo Repórter)
Quando a feminista Mary Wollstonecraft publicou A Vindication of the Rights of Women (Reinvicação dos Direitos da Mulher) em 1772, o satirista Thomas Taylor respondeu com A Vindication of the Rights of Brutes* (Reinvidicação dos Direitos dos Brutos). Taylor caçoou do absurdo de estudar os direitos das mulheres sugerindo que isso um dia poderia conduzir ao conceito ainda mais louco de direitos animais. Se isso acontecesse, ele avisou, “o governo seria completamente subvertido e a subordinação, abolida.”
Em 1986, a Harvard tornou real metade do pesadelo de Taylor quando a faculdade instituiu um Comitê de Graduações de Estudos da Mulher. E, no próximo outono, graduandos poderão realizar a segunda parte do pesadelo ao se matricular em um novo curso de Educação Geral que será lecionado sobre estudos animais. Esse poderia, e deveria, ser o primeiro passo em direção à mais nova disciplina da Harvard.
Estudos animais surge da premissa que os animais são parte integral da história humana e seres que devem ser estudados por mérito próprio. Inspirado pelo surgimento dos estudos ambientalistas, estudos afroamericanos e estudos feministas, os estudos animais aplica uma lente multidisciplinária à um objeto de pesquisa igualmente execrado. Baseando-se em elementos de biologia e antropologia, filosofia, história e literatura, essa disciplina explora conceitos como o “natural”, “humanista” e “animalista”.
A idéia pegou. Uma pesquisa recente encontrou mais de 150 cursos universitários em estudos animais na América do Norte, cobrindo tudo, desde teorias de direitos animais até animais como símbolos de civilizações antigas.
Na Harvard, William R. Kennan Jr. Professor de Inglês e Estudos Visuais e Marjorie Garber, de Estudos Ambientais atualmente ensina “O Animal Visual” – um seminário de graduação que serve como base do curso de Educação Geral sobre animais em literatura, arte e cultura popular que será oferecido no próximo ano. E a professora associada da história da ciência Sarah Jansen lançou nesse semestre uma disciplina sobre a história de cães.
Os críticos lamentam que os programas de estudos animais privilegiam um tema (animais) ao invés de um modo de pesquisa (por exemplo, análise científica), ao mesmo favorecendo uma politização da academia ao transmitir mensagens explícitas de direitos animais.
Porém esse foco acadêmico que prefere tema ao método reflete um reconhecimento pedagógico mais amplo que os estudantes podem aprender modos múltiplos de investigação ao pesquisar apenas um tema, sendo esse o raciocínio por trás da reforma do currículo central da Harvard dividido em áreas de educação geral temáticas. Além do mais, como nota Etienne Benson, um graduando que preside o grupo de história animal da Harvard, a natureza interdisciplinar dos estudos animais fomenta diálogo. Em um encontro recente do grupo, Janet Browne, professora de história da ciência e especialista em Darwin traçou um diálogo com a historiadora cultural da MIT Harriet Ritvo sobre a história da domesticação de ovelhas na Inglaterra.
A crítica da politização carrega peso mas não garante desprezo. Muitos (embora nem todos) os acadêmicos envolvidos com estudos animais apoiam direitos animais, da mesma forma que acadêmicos de estudos afroamericanos tipicamente apoiam direitos civis, e o mesmo se repete no caso dos estudos ambientalistas e das mulheres. A academia é cheia de debates normativos que exigem opiniões; o que importa é que todos os pontos de vistas sejam apresentados e o discurso crítico estimulado.
E, de fato, a Harvard já estabeleceu um modelo que mostra como esse discurso crítico pode ocorrer. Em 2007, os estudantes organizaram uma série de painéis entitulados “Encontrando animais” e “Travessias animais” nos quais acadêmicos legistas, filósofos, teóricos literários, teólogos e artistas discutiram o status moral e social dos animais. Mais de 300 membros da comunidade de Harvard compareceram, com biólogos desafiando membros do painel sobre experimentos com animais e cientistas políticos disputando as ramificações da garantia de proteções legais aos animais.
A medida que tais questões de tornam mais urgentes, e o crescimento da prominência do movimento de direitos animais nos force a repensar o uso e abuso de animais pela sociedade humana, tal diálogo se torna cada vez mais importante. E para um debate que é sempre feito nas ruas e nas manchetes da mídia, o auditório de palestras oferece uma rara oportunidade para análise crítica.
Felizmente, outras instituições prominentes tem guiado o caminho. Não longe da Harvard, o Center for Animals and Public Policy da Tufts University tem uma história de 25 anos oferecendo aulas em ética veterinária, legislação de bem estar animal e as mudanças na dinâmica das relações entre humanos e não humanos. Em 2006, o teólogo da Oxford University Rev. Andrew Linzey fundou o Oxford Animal Ethics Center com o apoio de 100 acadêmicos, entre eles o laureado Nobel J. M. Coetzee.
Agora é a hora da Harvard seguir esses exemplos. Benson observa que estudantes e professores da Harvard já demonstram um interesse significante em estudos animais mas não têm a estrutura para interagir. Uma série de palestras que durasse todo o ano poderia mudar essa situação, assim como a disponibilidade de mais cursos em estudos animais.
O objetivo final de muitos acadêmicos de estudos animais - um comitê de graduação formal parecido com aqueles que existem para estudos ambientais e de mulheres - ainda é uma realidade distante. Mas com os alunos já se organizando em apoio desse objetivo e muitos membros do corpo docente simpatizando com esse objetivo, ele não é mais uma impossibilidade.
E quando esse dia chegar, A Reinvindicação do Direitos Dos Brutos estará no topo do currículo.
Em 1986, a Harvard tornou real metade do pesadelo de Taylor quando a faculdade instituiu um Comitê de Graduações de Estudos da Mulher. E, no próximo outono, graduandos poderão realizar a segunda parte do pesadelo ao se matricular em um novo curso de Educação Geral que será lecionado sobre estudos animais. Esse poderia, e deveria, ser o primeiro passo em direção à mais nova disciplina da Harvard.
Estudos animais surge da premissa que os animais são parte integral da história humana e seres que devem ser estudados por mérito próprio. Inspirado pelo surgimento dos estudos ambientalistas, estudos afroamericanos e estudos feministas, os estudos animais aplica uma lente multidisciplinária à um objeto de pesquisa igualmente execrado. Baseando-se em elementos de biologia e antropologia, filosofia, história e literatura, essa disciplina explora conceitos como o “natural”, “humanista” e “animalista”.
A idéia pegou. Uma pesquisa recente encontrou mais de 150 cursos universitários em estudos animais na América do Norte, cobrindo tudo, desde teorias de direitos animais até animais como símbolos de civilizações antigas.
Na Harvard, William R. Kennan Jr. Professor de Inglês e Estudos Visuais e Marjorie Garber, de Estudos Ambientais atualmente ensina “O Animal Visual” – um seminário de graduação que serve como base do curso de Educação Geral sobre animais em literatura, arte e cultura popular que será oferecido no próximo ano. E a professora associada da história da ciência Sarah Jansen lançou nesse semestre uma disciplina sobre a história de cães.
Os críticos lamentam que os programas de estudos animais privilegiam um tema (animais) ao invés de um modo de pesquisa (por exemplo, análise científica), ao mesmo favorecendo uma politização da academia ao transmitir mensagens explícitas de direitos animais.
Porém esse foco acadêmico que prefere tema ao método reflete um reconhecimento pedagógico mais amplo que os estudantes podem aprender modos múltiplos de investigação ao pesquisar apenas um tema, sendo esse o raciocínio por trás da reforma do currículo central da Harvard dividido em áreas de educação geral temáticas. Além do mais, como nota Etienne Benson, um graduando que preside o grupo de história animal da Harvard, a natureza interdisciplinar dos estudos animais fomenta diálogo. Em um encontro recente do grupo, Janet Browne, professora de história da ciência e especialista em Darwin traçou um diálogo com a historiadora cultural da MIT Harriet Ritvo sobre a história da domesticação de ovelhas na Inglaterra.
A crítica da politização carrega peso mas não garante desprezo. Muitos (embora nem todos) os acadêmicos envolvidos com estudos animais apoiam direitos animais, da mesma forma que acadêmicos de estudos afroamericanos tipicamente apoiam direitos civis, e o mesmo se repete no caso dos estudos ambientalistas e das mulheres. A academia é cheia de debates normativos que exigem opiniões; o que importa é que todos os pontos de vistas sejam apresentados e o discurso crítico estimulado.
E, de fato, a Harvard já estabeleceu um modelo que mostra como esse discurso crítico pode ocorrer. Em 2007, os estudantes organizaram uma série de painéis entitulados “Encontrando animais” e “Travessias animais” nos quais acadêmicos legistas, filósofos, teóricos literários, teólogos e artistas discutiram o status moral e social dos animais. Mais de 300 membros da comunidade de Harvard compareceram, com biólogos desafiando membros do painel sobre experimentos com animais e cientistas políticos disputando as ramificações da garantia de proteções legais aos animais.
A medida que tais questões de tornam mais urgentes, e o crescimento da prominência do movimento de direitos animais nos force a repensar o uso e abuso de animais pela sociedade humana, tal diálogo se torna cada vez mais importante. E para um debate que é sempre feito nas ruas e nas manchetes da mídia, o auditório de palestras oferece uma rara oportunidade para análise crítica.
Felizmente, outras instituições prominentes tem guiado o caminho. Não longe da Harvard, o Center for Animals and Public Policy da Tufts University tem uma história de 25 anos oferecendo aulas em ética veterinária, legislação de bem estar animal e as mudanças na dinâmica das relações entre humanos e não humanos. Em 2006, o teólogo da Oxford University Rev. Andrew Linzey fundou o Oxford Animal Ethics Center com o apoio de 100 acadêmicos, entre eles o laureado Nobel J. M. Coetzee.
Agora é a hora da Harvard seguir esses exemplos. Benson observa que estudantes e professores da Harvard já demonstram um interesse significante em estudos animais mas não têm a estrutura para interagir. Uma série de palestras que durasse todo o ano poderia mudar essa situação, assim como a disponibilidade de mais cursos em estudos animais.
O objetivo final de muitos acadêmicos de estudos animais - um comitê de graduação formal parecido com aqueles que existem para estudos ambientais e de mulheres - ainda é uma realidade distante. Mas com os alunos já se organizando em apoio desse objetivo e muitos membros do corpo docente simpatizando com esse objetivo, ele não é mais uma impossibilidade.
E quando esse dia chegar, A Reinvindicação do Direitos Dos Brutos estará no topo do currículo.
*termo arcaico e pejorativo para descrever animais.
Texto original: http://www.thecrimson.com/printerfriendly.aspx?ref=527662
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