19 de jan. de 2009

A diferença entre senso comum e censura

De vez em quando um ativista vegano se depara com um situação em que tem que criticar um 'criador' que endossa ou pratica a crueldade contra animais em seu trabalho artístico (prefiro esse ao termo 'artista' porque assim evitamos discustir sobre o mérito estético do trabalho). Recentemente houve o caso das galinhas no espaço Dragão do Mar em Fortaleza, a artista australiana que mata aves para roubar suas penas e um certo curta metragem patrocinado pelo estado (um daqueles que custam centenas de milhares de reais e são exibidos duas vezes para talvez 100 pessoas) que incitava no título a violência contra cães de rua.

Quando criticados, esses criadores revidam dizendo que estão sendo vítimas de censura, um argumento que ofende todos aqueles que realmente foram vítimas da censura no período da ditadura militar e outras minorias que tiveram suas vozes caladas em diversos contextos. O argumento da censura é o argumento do perdedor. Por não saber o como defender seu trabalho, tal criador simplesmente dispara o termo 'censura', e assim o banaliza.

Censura real é uma forma de perseguição baseada em preconceito. Por exemplo, se a igreja pedir a censura, digamos, de um beijo entre dois homens em um filme, ela está praticando censura porque o que está sendo ofendido é seu preconceito, e não a sociedade. Um beijo entre dois homens não causa mal a ninguém e nesse caso um veto seria censura. Mas quando a sociedade civil pede de criadores a observação do parâmetros éticos que comprovamente estão sendo violados em uma determinada obra, ela está simplesmente se defendendo do preconceito do criador, que ao tornar pública sua obra pode causar dano.

Infelizmente muitos criadores se esbaldam em controvérsia e choque como um fim em si, tentando em vão imitar os Dadaístas do começo do século passado e vulgarizando o impulso desafiador que é positivo para um artista inteligente, e rico de idéias realmente originais. Mas o criador que quer desafiar idéias e paradigmas, deve, se realmente corajoso, desafiar o opressor e não o vulnerável. Ou simplesmente desafiar a tradição, que é o que o veganismo faz.

A verdade é que mesmo o criador que gosta de se considerar politicamente incorreto e acima do bem e do mal, como os cientistas que praticam a vivisecção, se auto-censura. Um cineasta contemporâneo provavelmente não vai incluir uma cena de sexo explícita em um filme ou talvez usar termos abertamente racistas ou misoginistas porque ele/ela sabe que o senso comum não o permite, mesmo quando isso possa fazer sentido narrativo. Faz parte de um processo de evolução e conduta ética que, bem ou mal, acontece e continuará acontecendo. Quem tiver problema com isso porque acha que sua 'liberdade de expressão' está sendo infringida deve escolher um outro tipo de trabalho. Liberdade termina onde o direito do outro começa. Esse é o princípio básico da democracia do qual a arte nem a ciência podem ser isentas.


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