A Revista da Folha publicou no fim de semana que passou uma matéria sobre 'abate humanitário' e deu voz também à ótica abolicionista. A primeira visa regular o manejo de animais criados para serem consumidos por humanos de modo a mitigar o sofrimento durante sua curta vida. A segunda acredita que matar nunca pode ser considerado um gesto humanitário e que os animais tem que ser liberados de sua situação de 'propriedade humana' (assim como os escravos humanos já o foram um dia). A base moral dos abolicionistas é o veganismo, ou seja, a eliminação total de produtos animais da comida, vestuário e onde mais for possível.
A matéria é bem escrita, neutra e revela a incoerência do raciocínio por trás do abate humanitário, na verdade um oximoro. O objetivo real é econômico e não compassivo. Eu simpatizaria um pouco mais com organizações como a WSPA, que dá consultoria bem-estarista ao governo brasileiro, se ela estimulasse o veganismo em paralelo ao seu trabalho regulatório, mas ela nem sequer toca no assunto. Além do mais, é simplesmente impossível aplicar a lógica 'humanitária' aos números existentes: bilhões e bilhões de animais são mortos mensalmente mundo a fora. Como se pode criar, transportar e matar tantos de forma 'humanitária'? É logisticamente inviável, qualquer um pode perceber isso.
A matéria revela também o caso dos matadouros ilegais, que respondem por uma porcentagem altíssima, chegando a 60% em algumas regiões do Brasil. É melhor nem imaginar o terror que os animais passam nesses lugares.
Eu gostei do termo usado por Nina Rosapara descrever essa abordagem 'humanitária': uma anestesia na consciência. Corremos o risco de fazer o consumo de carne tornar-se tão aceitável eticamente como os produtos orgânicos e levar ao público mensagens conflitantes. A mensagem vegana é: não devemos consumir produtos animais. Se a gente não consome, a indústria acaba e ponto final. Não vai acontecer da noite pro dia, mas o abate humanitário jamais vai chegar a esse objetivo porque ele não visa acabar com a exploração animal, apenas regulá-la. A demora é preferível à impossibilidade.
Cenas do chamado 'abate humanitário':
2 comentários:
Oi Lobo!
Muito interessante essa matéria. Dia desses eu vi na televisão um programa mostrando as galinhas criadas em gaiolas e as criadas soltas. Era aquele chefe de cozinha britânico. O enfoque era o bem estar do animal para consumo e o abate "humanitário". Abordava também o preço cobrado a mais pelo carne e pelos ovos do animal criado solto. Em nenhum momento eles enfocam a necessidade de se deixar de consumir carne.
Um abraço.
Eu vi essa materia tambem. O objetivo desse 'chefs' celebridades de meia tigela nao e estimular o vegetarianismo mas simplesmente parecer mais 'autenticos'. Na verdade, sao grandes hipocritas e exploradores de animais, as custas dos quais enriquecem.
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